Na sexta-feira estava no aeroporto e recebi mensagens de alguns amigos me desejando boa prova! A gente sente que não está sozinho nessa empreitada, somos vários juntos nesse objetivo.
Corredor que é corredor vive, pulsa, sonha junto com o outro.
Entretanto, recebi naquele dia e já tinha recebido antes também muitos alertas sobre a dificuldade dessa prova. Todo mundo aqui treina para baixar o tempo. De uma prova para a outra a gente quer bater um recorde pessoal, nem que seja 1 segundo.
Meu drama foi quando descobri que Brasília não era para isso, que isso de tempo era para esquecer! Me senti indo para uma verdadeira guerra, como um soldado que vai para lutar e sobreviver. As estratégias foram refeitas e contextualizadas. No sábado estive com diversos corredores em Brasília, inclusive alguns da elite. Eles foram incisivos: "Esqueça seu tempo de POA, coloque aí de 30min. a 1h a mais. O tempo seco e as subidas serão seus adversários!"
Alguns me contaram que estavam tomando água de côco desde segunda-feira e dormindo ao lado de baldes de água. Um dica importante que me deram foi nos postos de hidratação molhar a parte interna do nariz, hidratando ali para evitar o sangramento.
Em Brasília escolhemos um hotel ótimo que deixo como dica, o Nóbile Suítes Monumental. A localização é muito boa, fica há uns 2K da Esplanada nos Ministérios, onde foi e geralmente é a largada das provas. O hotel fica a metros da Torre de TV, de onde temos aquela vista maravilhosa de Brasília!
A organização disponibilizou no sábado uma van da Torre de TV para a entrega do kit, o que foi de muita valia, porque a entrega seria em Guará, uma das cidades satélites. O kit achei super simples considerando o valor da inscrição e o fato de ser uma maratona, mas condizente com o porte pequeno da prova e inclusive do número de inscritos, que dizeram ser 800 no total(tanto maratona, revezamento e 8,5, mas esse número não é oficial!!!rsrs!).
A diferença é considerável quando você escolhe fazer uma prova de grande ou pequeno porte. Se grande, a cidade pára em torno daquilo. Em Brasília, por exemplo, o hotel nem sabia da realização do evento. Tivemos que pedir que o café da manhã fosse servido meia hora mais cedo, o que foi de pronto atendido!
A prova
A largada foi às 7h. Acordei 5:00 e 6:15 saí do hotel. Cheguei no local da largada umas 6:30 e achei uma delícia chegar cedo, sem aquela correria! Deu para ver as pessoas chegando, se arrumando, tirar fotos, tudo tranquilamente. Estava em torno de 19 graus na hora da largada.
Pedi na hora da largada muita fé e muita proteção. Pensei em todos vocês que passam aqui no blog e que me deram a maior força! Seguimos juntos.
Nos primeiros Kms que senti o tal do clima seco. Foi ali até o Km10 que me fez a maior diferença. dali para frente o corpo foi se ajustando e eu como uma soldada fui logo matutando minhas táticas para sobreviver...isso é muito engraçado quando se fica mais de 4 horas correndo: dá tempo de pensar em tanta coisa, de lembrar de várias histórias, de pensar o que fazer no próximo mês e até em qual será sua próxima viagem.
No Km12 tomei meu primeiro gel de carboidrato.
E segui tranquila e com uma corrida confortável até o Km16.
Pensei: faltam 26, vamos lá!
Fechei a meia maratona com 2h, dentro do previsto. Chegando por volta do Km23 entramos numa reta que nunca vi igual. E pelo que lembro foi direto até o Km30 e subindo, diga-se de passsagem. Uma subida quase não perceptível aos olhos, mas sentida cada milímetro pelas minhas pernas! Esse era um eixo em que a avenida estava fechada para esportes. Tinha muitas bikes, skate, patins. Achei muito engraçado pois nós corredores parecíamos invisíveis ali.....uma esfera muito louca....um silêncio absoluto, como se nós estivéssemos observando a cidade e o movimento dela!
Uma das minhas percepções foi essa meio solitária. Achei a esfera menos competitiva e ao mesmo tempo menos solidária e companheira da vida, de todas as provas que já estive.
Além do cansaço nas pernas, senti que algo não ia bem com meu pé direito. E viajei nisso um tempão já imaginando as bolhas naquele local. E eu não estava com tênis novo ou meia nova não. Gente, tem que ficar muito atento a isso. Um jeito mal encaixado que você coloca a meia e pode dar uma dobrinha que é o suficiente para te dar uma baita dor de cabeça. Pensei se parava e via o que tinha dado. Mas resolvi que era melhor nem olhar, para não ter chororô.
Tinha que me concentrar naquela subida interminável.
E quando você via que ela estava acabando, que logo ia vir uma descida, parecia miragem. Você chegava lá em cima e tinha um chapadão de uma reta.
No Km30 distribuíram sal e banana e tinha Gatorade sempre junto com a água! Faltavam mais 12K e dei importância a hidratação naquela parte final, até porque a temperatura já tinha subido bastante! Pelo Km33 encontrei um cara que passou por mim como um foguete no começo da prova. Dei uma força e falei: "Que seja sua maior caminhada da vida, mas faça! Atravessar a linha é que vai ficar na sua história!"
Minha velocidade reduziu reduziu e é quando sua cabeça quer uma coisa mas seu corpo não responde.
Fiquei pensando como é difícil esse momento. Chegamos nesse lugar como corajosos e passamos horas vivendo aqueles momentos de superação a cada segundo. Sua cabeça passa por um verdadeiro martírio, que é de não deixar você parar a todo custo, a qualquer preço.
Tomei então o gel no Km12, no Km22, no Km30 tomei o sal, no Km 35 comi uma bananinha(mas só uma lasquinhaaa pequena) e não usei todo meu arsenal! Foi um diferencial o short Go B Ananas para essa prova, que cabia tudo bem separadinho! Ainda tinha nos bolsos mais uma bananinha e uma rapadura!
No Km38 a coisa melhorou um pouco! O bom humor já estava de volta e resolvi me divertir naquele tobogã. Minha medalha estava ali pertinhooo!
E nessa reta final que é a parte emocionante. Todos que estão ali do seu lado estão no limite, na zona entre a dor e a euforia. Avistei a pontinha do Congresso e só queria fincar ali a MINHA BANDEIRA, minha conquista!
Foi mágico aquele quilômetro final! A gente tira força de onde não tem. Afinal, todo mundo quer fazer bonito, estufar o peito e levantar a cabeça!
Achei mágico conhecer todas as pessoas jurídicas administrativas do Estado em uma corrida(digo pelo advogada que sou, rsrsrs!), conhecer uma Brasília quieta e muito arborizada! Me lembrou muito Ipatinga a arquitetura das avenidas e as amplas áreas verdes.
Na chegada só queria tirar o tênis e ver o resultado do meu pé.
Meu tempo foi 04:47:22.
Ganhei 3 bolhas no pé direito e uma medalha de ferro, pesada, que ficou linda no meu peito.
Tem mais histórias!
Fica para o próximo post!
Bons treinos!